Volta e meia aparece uma menina grávida. Midiáticos que somos,
gostamos desse tipo de notícia. Uma manchete que inclua um nome, baixa idade e
a palavra "grávida" nunca passa incólume - acho que é condição de
nosso tempo, ser fofoqueiro com tudo. Passado o choque (se a grávida é
conhecida, o choque é maior ainda), alguns sentimentos podem vir: pena,
repulsa, escárnio. Aquela ideia invencível de "comigo não".
Dia desses veio a notícia de uma das integrantes do Bonde
das Maravilhas estava completando seus quinze anos enquanto gestava o primeiro
filho. No Facebook, a reação é clara: engravidou? É pobre, funkeira, estava até
demorando para engravidar. Vi todos os comentários. Pensei.
Embora haja uma boa diferença entre 15 e 21 anos (a idade
que tinha quando engravidei da Stella), eu claramente não pensava em ter filhos
antes dos 25, pelo menos. É o clássico plano: você se forma na faculdade, viaja
bastante, estuda mais um pouco, arruma um bom emprego. Conhece alguém. Demora anos
para ir morar junto ou até se casar, já que precisamos ter certeza na vida, né?
Aí, se engravida. Só aí. O Guilherme, que tem 31 anos, tem a grande maioria de
seus amigos (obviamente bem mais velhos do que eu) ainda num desses estágios.
Conhecemos pessoas de 30 anos ou mais que não estão nem querendo sair da casa
dos pais. A essas pessoas, uma notícia de gravidez precoce pode soar muito,
muito impressionante. E: se a menina do Bonde das Maravilhas engravidou aos 15,
que justificativa eu, de classe média, estudante de faculdade e instruída tinha
para engravidar aos 22?
Peço uma coisa: quando avistarem uma menina grávida,
respeitem-na. É INCRIVELMENTE difícil fazer algo que vai contra a cultura de um
povo. Pode ser gratificante, mas sempre é difícil e pode causar sofrimento. Muitas mulheres têm filhos durante a vida e cultivam essa vontade desde
jovens - e são elas que também olham para as precoces com escárnio,
preconceito, pena.
Stella em suas 39 semanas de forninho. |
Uma mãe pode surgir aos 15, aos 22, aos 30, aos 40. Assim
como pode não surgir. Idade não determina coragem ou capacidade para nada. Aos
22, vejo que alguns planos se alteraram por causa da vinda da Stella, mas não
me olhem como se eu tivesse perdido alguma coisa. Um filho é um ganho. Só se
perde quando se quer perder.
Passei a minha gravidez um pouco triste, esperando reações
negativas das pessoas. Boa parte delas nem soube da Stella antes que ela
chegasse ao mundo. Sabia que me julgariam. Cheguei a ouvir que a minha gravidez
era um "mau passo", como se a minha vida estivesse fadada para
sempre. Peço, não julguem. Respeitem as grávidas (inicialmente porque são grávidas)
e porque tiveram a coragem de se assumir assim. É difícil criar um plano B a
tudo aquilo que nos é imposto - essa ordem de viver - e se há esse plano B, uma
mulher não perderá nada. Ser mãe é se reinventar e sempre ser capaz de fazer o
que parece ser impossível.
Todo o tempo que passei "envergonhada"
pelos outros por estar grávida está sendo compensado pela qualidade de cuidados
dados à Stella e pela felicidade em nossa relação. Aos 22, tenho energia para
fazer tantas coisas. Minha filha é criada pelos pais, em nossa casa, que
pagamos com o nosso dinheiro, do nosso trabalho.
A todas as mãeninas: vocês têm a minha admiração.
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