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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

As últimas eternas semanas

   O corpo já está exausto de ser concha. As noites já são impossíveis. A sensação é de um misto de ansiedade, cansaço, impaciência. Depois de nove - ou 14329318 - meses, certas coisas já não dão mais tanto medo.
   A DUM previa que o nascimento da Stella seria ao redor do dia 12 de março. Entretanto, um dia tão longínquo estava... ficando para trás?! 

Novena para São Patrício em 16 de março.

    Ao optar por um parto normal, a ansiedade funciona como uma espécie de roleta russa, uma boa aposta. Eu nasci ao completar 38 semanas, mas o tempo possível para um nascimento a termo vai de 37 a 42. Durante essas cinco semanas, tudo pode ser previsto ou sair do imprevisto. Apressada que sou, decidi sair do trabalho às 38 semanas, ainda em fevereiro (se soubesse que o grande dia seria 20 de março, tinha trabalhado mais um cadinho...) e simplesmente me pus a esperar. Era carnaval e as probabilidades de esperar em casa (moramos em Santa Teresa) era pequena, pela dificuldade de uma saída durante algum dos bloco. É, pensamos de tudo para as primeiras semanas de março, quando ficamos acampados na casa da minha mãe. 
   Só que... fuen. Mesmo sabendo que ela poderia nascer até o fim do mês, cada dia contava. A minha ansiedade era especialmente ligada à licença maternidade da faculdade, que acabava no começo de maio. E nada de Stella. A barriga estava grande, redondinha. As contrações de Braxton-Hicks gritavam desde as 36 semanas. Mas nada de nada. Nada de dor, nada de bolsa romper, nada de grande momento. Um dia, no shopping, liguei para a madrinha da Stella: 

 - Oi, amiga, tudo bem?
 - Tudo, e você? Como tá a Stella? Tá vindo?
 - Ai, nada... e nós aqui esperando, mas nenhum sinal... dizem que a gente sabe quando é parto, né? Mas, aff, tô de saco cheio de esperar e nem saber pra quando vai ser... ah.. peraí, minha bolsa arrebentou aqui...
 ---- silêncio ---- 
- Calma, é bolsa bolsa, bolsa de carregar coisas.
- Ahhhh tá!

    Tava a esse nível, a coisa. 
    A verdade é que fomos murchando com os dias. O que era animação e promessa ("vai nascer no dia tal",
"vai nascer na virada da Lua, a Lua sempre traz bebê") foi virando francamente frustração. Nessa época, aprendi que a pior atitude é pressionar uma grávida - uma simples ligação para "saber se já nasceu" me desesperava. Sentia que eu estava decepcionando os outros e a mim mesma. Eu estava bastante frustrada e chateada com tudo, além de estar muito enjoada de carregar o barrigão (leia-se: não conseguir dormir, comer, respirar, etc). Só queria ficar sozinha, isolada
   A pressão também era externa. Finalmente arrumamos uma médica de plano que topava parto normal (yes!), só que ela garantia que só ia esperar até a 40ª semana. Parece que a indicação de espera de parto da OMS era 41 + 3. A data ia se aproximando. A cada consulta semanal íamos ficando mais chateados. Ninguém queria cesariana - nem eu, nem o Guilherme, nem as famílias. Apesar de exames constantes estarem perfeitos, havia a pressão de fazer uma cesariana "de urgência" caso a data X passasse. E nós esperamos. Embora eu já estivesse de saco cheio e frustrada, nós esperamos. Fiz de tudo - andei, corri, dancei. Dei uma volta na Lagoa com 40 semanas (visualizem). E nada.
  O pior de tudo era que eu estava insegura. Não havia dentro de mim uma voz que me dissesse para esperar. Quando eu falava com a Stella, perguntava porque ela estava demorando tanto. Eu estava triste. Sabia de histórias de bebês que simplesmente passavam do prazo previsto e entravam em risco por isso - e, meu Deus, essa é a última coisa que eu queria. Quando fechava os olhos, imaginava a quantidade de coisas ruins que poderiam acontecer. Naqueles últimos dias, tudo o que eu queria era parir. Parir parecia uma ótima ideia.
   O 41 + 3 dias tinha chegado. Dentro de horas, até o signo mudaria. Minha pisciana estava tão perdida que tinha se esquecido como sair e ia vir como ariana, veja só. Infelizmente, marcou-se a cesariana para o dia 19 de março, dia de São José. 
   Na noite do 18 para o 19, chorei. Chorei por ser jovem e saudável e ter que me expor a um procedimento duro como a cesariana sem aparente necessidade. Minha bebê era perfeita e estava bem, mas e se não estivesse? A culpa seria minha? O que deveria ser feito? 

 Stella, por que você não vem? Por que não nascemos juntas?

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